sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crítica: "Bravura Indômita"

Refilmagens quase sempre sucumbem ao filme original, principalmente em sua ânsia de torná-lo mais palatável ao público contemporâneo. Não com os Irmãos Coen. Joel e Ethan, responsáveis por pérolas como “Gosto de Sangue”, “Fargo” e “Onde os Fracos Não Têm Vez” deram a “Bravura Indômita” o impacto faltante à versão dirigida por Henry Hathaway no final dos anos 60.

Explica-se: quando John Wayne vestiu o tapa-olho do xerife Reuben "Rooster" Cogburn em 1968, Sergio Leone já tinha levado para Hollywood a violência e o realismo dos westerns spaghetti de “Por um Punhado de Dólares” e “Três Homens em Conflito”. Mas Hathaway fez seu “Bravura Indômita” de modo classicista, sem aproveitar o potencial do romance do jornalista Charles Portis que deu origem ao roteiro.

Basta comparar as duas versões, a de Hathaway e a dos Coen, para perceber as diferenças. A história, em sua essência, permanece a mesma, mas noutro tom mais crítico. A cena do “tiro ao alvo”, cortada no filme de 1968, é icônica nesse sentido: os disparos de Cogburn (Jeff Bridges) ironizam o faroeste limpinho de tempos anteriores. A cena clássica e reaproveitada em outras produções ganha aqui ares menos maniqueístas.

Também é fácil de entender o porquê do interesse dos irmãos diretores em readaptar a obra de Charles Portis. A garota Mattie Ross (Hailee Steinfeld) carrega muito dos outros personagens dos Coen, exposta a uma situação limite ao acaso, forçada à maturidade precoce (neste caso, literalmente). Decidida a vingar a morte do pai, Mattie contrata o errante federal Cogburn, adepto de métodos pouco convencionais.

Outro envolvido na caçada, o ranger texano LaBoeuf (Matt Damon) é o oposto de Cogburn, centrado e seguidor do código de conduta de sua função. A dualidade entre os dois homens, inexistente no primeiro “Bravura Indômita”, é exemplar nessa nova versão. É através da interação entre ambos que se dá o amadurecimento de Mattie, enquanto cada vez mais se aproxima o momento de se fazer justiça.

Fora isso, “Bravura Indômita” ainda é um grande western, lotado de bons tiroteios e com visual belíssimo. Para fãs do gênero, um filme imperdível e que pode significar o retorno do bang bang em grande estilo à tela grande. Para os não iniciados, uma ótima maneira de se interar sobre o estilo antes de partir para os clássicos de Sergio Leone e John Ford.

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