sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crítica: "Inverno da Alma"

Não é um filme fácil, tanto por sua narrativa bastante lenta quanto pelo tema abordado, mas “Inverno da Alma” merece ser descoberto pelo público. Azarão entre os dez finalistas ao prêmio máximo do Oscar 2011, o longa-metragem de Debra Granik não faz uso de fórmulas fáceis para forçar sua carga dramática – praticamente nem usa trilha sonora ou outros artífices maniqueístas. Aposta na força de seus personagens, e por isso nem sempre é compreendido.

Vale prestar atenção em Jennifer Lawrence, a jovem protagonista que arrebatou uma indicação ao Oscar por sua atuação. Ela está em cartaz nos cinemas como a Mística de “X-Men: Primeira Classe” e injeta emoção na saga mutante, mas seu grande momento está nesse filme, no qual dá vida para Ree, filha mais velha de uma família dilacerada pelos vícios do pai. Quando este desaparece, cabe a primogênita a missão de encontrá-lo sob o risco de a família ser despejada por causa de uma dívida relacionada ao pagamento de fiança.

O inverno, ressaltados nos títulos original e de lançamento no Brasil, torna a via crucis de Ree ainda mais pesada. A fotografia reflete não só a miserabilidade dos personagens como a falta de vida, um cenário estéril onde sobreviver é uma luta quase diária. Sob essa atmosfera triste, que poderia facilmente compor uma produção pós-apocalíptica, Ree encontra no vilarejo outros moradores igualmente tristes. O público sabe como as chances da menina se dar bem são bastante reduzidas.

“Inverno da Alma” poderia facilmente cair nos estereótipos, lotado de caricaturas exageradas que tornariam seus personagens unidimensionais e de moral facilmente identificáveis. Mas a diretora Granik é inteligente ao mesclar tons de cinza naquele universo majoritariamente preto e branco: em especial na composição de Teardrop (John Hawkes, indicado ao Oscar de coadjuvante), o instável tio de Ree. Essa dualidade e a imprevisibilidade tornam “Inverno da Alma” uma produção muito acima da média de outros filmes do gênero, mesmo que não palatável a todos os gostos.

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