quinta-feira, 2 de agosto de 2012
O crepúsculo do Morcego
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Crítica: "Super 8" e os vícios de Spielberg e Abrams
De Abrams, “Super 8” herda o gosto pelo mistério. O diretor, conhecido principalmente por seu trabalho na série “Lost”, fornece pistas à conta-gotas e deixa o público tão perdido quando seus personagens. A descoberta deles é também a nossa, o que gera uma empatia imediata na plateia, ávida por descobrir o mistério em torno do acidente de trem. Mas de Abrams aparecem ainda uns vícios estéticos, como os bregas contraluzes e a câmera levemente inclinada.
O resultado dessa mistura do cinema de outrora com o moderno cria um híbrido em alguns momentos estranho. Autorreferente e feito por quem (e para quem) ama o cinema, “Super 8” peca pelo excesso de informações no último ato, um didatismo desnecessário para uma produção que até então prezou pelo cuidado em seu desenvolvimento. É ainda flagrante o dedo de Spielberg em aliviar o destino trágico de alguns personagens, outro vício que acompanha o diretor e produtor.
O veterano e Abrams, seu novo pupilo, podem até ter se divertido na concepção dessa sua homenagem ao cinema, mas não dá para negar que “Super 8” termina não tão bem como começa.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
"Lanterna Verde", o herói sem brilho
A construção de Hal Jordan (Ryan Reinolds) é exemplar nesse sentido. Não basta ser um piloto destemido para torná-lo apto ao posto de super, é preciso lapidá-lo com um trauma de infância (no caso, a morte precoce do pai) e ainda inserir um relacionamento amoroso mal-sucedido. Hal Jordan, no filme, precisa amadurecer também como pessoa para estar pronto para vestir o uniforme verde e aprender a lidar com seus poderes, numa batida cena de treinamento.
Da mesma forma, a criação dois vilões se mostrou um grande equívoco. Com tanta coisa a se explicar, deixa para um sem-número de péssimos diálogos expositivos, fica difícil dar conta da metamorfose de Hector Hammond, a ameaça terrestre, e da entidade Paralax, a ameaça galáctica. Assim falta tempo para momentos importantes como a primeira aparição pública do herói, que de tão mal desenvolvida chega a ser risível - aparentemente os coadjuvantes e figurantes estão acostumados a ver homens voadores tamanha falta de impacto provocado pelo Lanterna Verde.
De certa forma, “Lanterna Verde” lembra outra famigerada adaptação de personagem da DC Comics, “Batman & Robin”. É fruto da megalomania de Hollywood para criar uma série de sucesso, mas que não atenta para a construção de uma sólida história antes de transformá-la em produto. “Lanterna Verde” é até uma bobagem divertida, mas uma bobagem que custou US$ 300 milhões.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Em DVD, o repetitivo "Se Beber, Não Case - Parte II"
A premissa também é bastante similar. Depois da noite de farra na Cidade do Pecado na despedida de solteiro de Doug (Justin Bartha), Phil (Bradley Cooper), Alan (Zach Galifianakis) e Stu (Ed Helms) estão na Tailândia para o casamento desse último. Para não terem mais um ataque de euforia, os quatro amigos decidem fazer apenas um luau na praia – claro, a ideia não dá certo e no dia seguinte lá estão eles num hotel vagabundo no centro de Bangcoc, sem memória e sem a mínima ideia do paradeiro do cunhado de Stu.
Até aí, nenhum problema. Repetir o ponto de partida da trama original é até uma zona de segurança, como se o diretor Todd Phillips quisesse entregar justamente aquilo que o público deseja, sem correr grandes riscos. Mas o excesso de zelo fica com cara de piada requentada quando as situações do primeiro “Se Beber, Não Case!” reaparecem exaustivamente, até na mesma ordem e sem a mesma graça.
Há ainda de se lamentar a mudança de Alan, de longe o melhor personagem da série. De um doido excêntrico e infantil ele passa a ser digno de pena, como se tivesse algum retardo mental incompreendido pelos amigos. Por outro lado, Stu aqui ganha mais destaque e seu desespero ao perceber que o cunhado pode estar em perigo garante uns poucos momentos divertidos no longa-metragem.
Trocando o humor físico por algumas cenas até violentas, sinal da ânsia de Todd Phillips em ampliar as situações inusitadas do primeiro filme, “Se Beber, Não Case! – Parte II” tem na previsibilidade seu maior problema. Em determinado problema, um personagem diz não acreditar “que está acontecendo tudo de novo”. Pois é, eu também não.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
A volta de Tom Cruise em "Missão: Impossível 4"
A existência de “Missão: Impossível 4 – Protocolo Fantasma” atende aos anseios do diretor e do ator. Bird quer mostrar talento na condução de uma megaprodução, enquanto Cruise almeja se afastar da decadência. Para isso, nada melhor que retomar um sucesso de outrora em uma nova embalagem, modernosa para o público pouco íntimo das aventuras de Ethan Hunt, o agente da IMF (Impossible Missions Force) responsável por burlar as leis da gravidade e outras suspensões da crença.
Quem assistiu aos três primeiros filmes sabe como o exagero é praxe em “Missão: Impossível”. No quarto capítulo, a trama se aproxima um pouco do filme de estreia, com Ethan Hunt tendo de provar sua inocência após uma missão de IMF dar errado e provocar um grande estrago em Moscou. A diferença é que, desta vez, o agente não poderá escolher sua equipe e se apoia num grupo de desconhecidos, com intenções nem sempre muito claras.
Outra característica marcante de “Missão: Impossível” está no didatismo. Todo o plano de Ethan Hunt é milimetricamente explicado, para o público não precisar gastar muito tempo pensando no que diabos está acontecendo e se concentrar na ação quase ininterrupta. “Protocolo Fantasma” consegue o feito de deixar tudo bastante claro já nos próprios trailers, além de fornecer um aperitivo da cena mais comentada da produção: o momento em que Hunt escala o Burj Khalifa, o maior arranha-céu do mundo, com 828 metros, localizado em Dubai.
Brad Bird não se rende ao já previsível 3D, e troca o efeito tridimensional pelo uso das câmeras IMAX, em altíssima definição e com captação adequada para telas de cinema gigantes – mas mesmo numa sala convencional é possível perceber a diferença, coisa que quem assistiu “Batman – o Cavaleiro das Trevas” pode perceber. Uma alternativa para o batido sistema de conversão em três dimensões, potencializada principalmente em longas-metragens de ação que dependem de parafernálias visuais.
Em suma, Tom Cruise apostou alto nessa volta à sua franquia mais lucrativa. O astro, também produtor de todos os “Missão: Impossível”, sabe da importância do sucesso de “Protocolo Fantasma” para estar de novo em evidência – há quem diga que o ator se despede da série aqui, abrindo espaço para o agende Brandt, interpretado por Jeremy Renner, e que depois fará uma sequência de “Top Gun”.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Lançamento em DVD: "Melancolia"
Na primeira parte de “Melancolia”, acompanhamos o casamento de Justine (Kirsten Dunst), organizado pela irmã Claire (Gainsbourg) num pomposo castelo pertencente à família. À primeira vista, os duros conflitos apresentados nessa fase do filme soam como um dramalhão exagerado – não há nenhum respiro para a noiva, seja na conturbada relação com os pais, na falta de personalidade do noivo e nas excessivas cobranças dos cunhados. A família de Justine reúne todos os clichês possíveis de uma família desestruturada, e isso reflete na depressão eminente da personagem.
Mas o exagero oferecido por Trier não é ao acaso, como mostra a segunda parte de “Melancolia”. O diretor reúne toda a sua falta de fé na humanidade no evento apenas para apresentar o fim do mundo como uma benção, e conforme o gigante planeta Melancolia vem em direção a Terra a protagonista abandona seus dramas e abraça a morte como uma salvação. Até por isso, Justine leva o mesmo nome da protagonista de vários livros do Marquês de Sade, uma virtuosa que paga por sua bondade e só se livra do mal quando é rasgada por um raio.
Assim como em “Anticristo”, Trier faz de “Melancolia” uma ode ao niilismo, mas sem ver o niilismo como um fim. Justine aprende a lógica apresentada pelo diretor de que é preciso reiniciar a humanidade para livrá-la de seus vícios. E isso só será possível depois de muito sofrimento, seja na morte acidental do filho pequeno, seja na constatação de que as relações familiares estão destruídas. Se desapegar dessas crenças e abraçar o niilismo é, assim, parte do processo de redenção.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Impressões sobre "A Pele que Habito", de Almodóvar
Ainda antes das gravações de “A Pele que Habito”, quando questionado sobre a ausência de sua preferida Penélope Cruz no elenco, Pedro Almodóvar disse não imaginar a atriz no papel principal de seu novo filme. A resposta faz sentido após uma sessão do longa-metragem: não há margem para musas, para a beleza, em “A Pele que Habito”. Não há na verdade nem espaço para o erótico, mesmo com a abundância de pele e carne nua exposta.
A transfiguração de gêneros é tema recorrente na filmografia de Almodóvar, desde os travestis de “Tudo Sobre Minha Mãe”, a homossexualidade latente de “Má Educação” e até a tara por comatosos de “Fale Com Ela”. Mas nunca da maneira vista aqui – o cineasta espanhol parece ter bebido na fonte de Sade ao pensar genitálias exclusivamente como genitálias, não como elementos definidores da sexualidade de um organismo.
Se pênis e vaginas são tão freqüentes em “A Pele que Habito”, a presença dos órgãos nunca sai do âmbito do discurso. O mais próximo de uma presença visual está na coleção de consolos do cirurgião Robert Ledgard, por mais que estes não deixam de ser artificiais. Como, aliás, são todas as outras referências feitas aos instrumentos sexuais dos personagens, a começar pelo bem-dotado “homem tigre”.
A indefinição permeia praticamente todas as relações interpessoais em “A Pele que Habito”. Seja na mãe receosa pela violência do filho, seja pela consumação ao não de um estupro. Nem mesmo a Vera Cruz interpretada por Elena Anaya, responsável pelo ato de conclusão da trama, deixa de titubear nesse emaranhado de instabilidades. Reparem: ela comprou o gel lubridificador.
Só Ledgard tem certeza de seus atos, e as feições talhadas de Antonio Banderas casam perfeitamente com o personagem. Almodóvar demorou 20 anos, desde “Ata-me”, para voltar a trabalhar com o ator, talvez na espera deste amadurecer. Os protagonistas de “Ata-me” e “A Pele que Habito”, não por acaso, ainda dividem outras similaridades, como a obsessão pela amada e o uso do cárcere.
Afora todo esse incômodo (e se há uma palavra direta pra definir “A Pele que Habito” é esta, “incômodo”), Almodóvar segue como um exímio criador de planos. As imagens das trocas de olhares entre o casal de protagonistas, mesmo proporcionadas apenas pelo médium da televisão, são tão belas que dá vontade de imprimir e colocar num quadro. Coisa de quem realmente tem domínio da linguagem cinematográfica e usa seu potencial para reinventar-se. E, de quebra, gerar uma série de discussões, como é de praxe em todo bom filme.