quinta-feira, 23 de junho de 2011

O peso da estatueta

Premiado com os Oscars de filme e direção, "O Discurso do Rei" é lançado em DVD

“O Discurso do Rei” carrega em sua grande honraria uma responsabilidade. Afinal, o título de “Oscar de Melhor Filme” fartamente estampado em seu cartaz pressupõe ser esta a grande produção do ano – principalmente porque, ainda hoje, grande parte do público é levado pela premiação mais popular do cinema. E, considerando essa premissa, fica claro que a cinebiografia do rei britânico George VI está longe de ser unanimidade.

Como também está longe de ser um desastre. “O Discurso do Rei” segue a linha acadêmica em se fazer cinema, sem grandes arroubos técnicos, com uma história de superação, uma boa recriação de época e atuações certeiras. Não corre riscos: segue a fórmula consagrada, e por isso agradou aos votantes do Oscar. Mas, num ano com “Bravura Indômita”, “Cisne Negro”, “Inverno da Alma” e até “Toy Story 3” entre os indicados, este não é mesmo o melhor filme da temporada.

Principalmente porque, não fosse a presença marcante de Colin Firth, “O Discurso do Rei” perderia a empatia do público com seu protagonista, um erro imperdoável nesse tipo de produção. Como o gago Rei George VI, em apuros para mostrar liderança para seu súditos às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o ator dá um banho de interpretação. Não torna risível a dificuldade de expressão do personagem, nem cai no caricato.

Some essa força à participação de Geoffrey Rush como o fonoaudiólogo Lionel Logue. O auxiliar do Rei George injeta a irreverência necessária à história surreal: seu modo de tratar o ilustre cliente, quase como uma criança, não apenas compõe o alívio cômico da história como estabelece uma química perfeita entre os personagens. A gradual aproximação de ambos, arranhada num dispensável conflito próximo ao clímax, é o ponto alto do filme.

Esse aspecto humano da história, como se fossem testemunhas da fragilidade de um homem que supostamente deveria ser lembrado pelo seu poder de liderança, torna “O Discurso do Rei” um filme certeiro, competente e de fácil envolvimento. Ressalta-se, não é a grande produção do ano, e despido dessa alta expectativa pode funcionar até melhor.

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