terça-feira, 12 de julho de 2011

Breves impressões sobre "Meia-Noite em Paris"

De certa forma, o arrogante ex-professor Paul (Michael Sheen) representa a crítica almejada por Woody Allen em seu “Meia-Noite em Paris”: a do pseudo-intelectual, de quem não cessa em derramar seus amplos conhecimentos sobre uma penca de assuntos justamente porque seus interlocutores, mortais normais, não podem contradizê-lo mesmo quando sua intelectualidade é imprecisa – a cena da discussão sobre Rodin é exemplar nesse sentido.

Para Woody Allen, como bem apontou a crítica do Marcelo Hessel, a arte deve ser experimentada, não ostentada. No desfile de célebres moradores da Paris dos anos 20, como F. Scott Fiztgerald, Ernest Hemingway e Pablo Picasso, o diretor brinca de ser Paul – e o público cai direitinho nessa pequena armadilha. Como não rir da obsessão de Salvador Dali por rinocerontes? E a vontade constante de Hemingway em lutar boxe? Allen também derrama seus conhecimentos e o público se diverte, mesmo sem saber necessariamente o motivo.

O embate da arte experimentada e da arte ostentada é o grande mote de “Meia-Noite em Paris”. O fato de Gil Pender, o protagonista, ser um roteirista de Hollywood em busca da carreira de escritor contribui nesse sentido: ele quer largar os enlatados de Hollywood, a arte consumível, para dedicar-se a uma escrita considerada por ele como mais nobre. O diretor e roteirista Woody Allen ri de sua própria condição de realizador dessa arte consumível, mas que nem por isso deve ser renegada.

No “quem é quem” da Paris dos anos 20, há que fique preocupado em lembrar os nomes menos cotados para procurar no Google depois da sessão. Bobagem: como o próprio Gil aprende no decorrer dessa sua viagem pelo passado, não as figuras ilustres que tornam uma época mais memorável do que outra – vale a forma como aquele período nos influencia, das intermitências da arte em nossas vidas. E, para isso, não é preciso mostrar aos outros que entendeu, mesmo sem entender, a piada sobre a forma como Luis Buñuel teve a ideia de “O Anjo Exterminador”.

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