quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"Sobrenatural": A Arte do Susto

Num gênero tão desgastado quanto o terror, lotado de remakes e filmes de tortura pornô, “Sobrenatural” é uma das surpresas mais bem-vindas dos últimos tempos. Curiosamente, os responsáveis por esse ótimo filme são o diretor e o roteirista James Wan e Leigh Whannell, os criadores da franquia “Jogos Mortais” – talvez a maior praga dessa leva recente de produções sanguinolentas.

A fórmula do sucesso de “Sobrenatural” lembra os exemplares do terror oitentista, como “Poltergeist”, “A Hora do Espanto” e “A Morte do Demônio”, nos quais os sustos e a violência gráfica contrastam com leves momentos de humor. Mas são somente pitadas, porque o grande trunfo de “Sobrenatural” é mesmo o constante estado de urgência, o suspense mais sugestivo e oposto ao excesso de mutilações e mortes escabrosas dos terrores recentes.

Dá até para considerar que a dupla de realizadores tenha aprendido a lição após a derrocada de “Jogos Mortais”. Antes de começar com os sustos, o roteiro preocupa-se em estabelecer relações entre o público e o casal Josh e Renai, que herda uma velha casa pouco antes do filho de dois anos entrar em coma devido a um grave acidente.

Se a premissa da trama não parece um poço de criatividade, sua resolução consegue surpreender justamente por inserir novos elementos à já batida narrativa da “casa mal-assombrada”. Aliás, “Sobrenatural” vai muito além disso: a chegada na mansão é apenas uma das situações que transforma a vida do casal de protagonistas.

Felizmente, passada a primeira metade, o filme descamba lentamente para o terror puro. Wan e Whannell estabelecem os sustos lentamente, iniciando com vultos que passam batido pela câmera, mas entrega na parte final o que realmente se espera de um filme do gênero. A última meia-hora de “Sobrenatural” mostra como todo o clima criado anteriormente contribuiu para o desfecho se tornar ainda mais apavorante.

Pena que a resolução fuja da linha mais realista mantida pelo filme e insira alguns elementos excessivamente fantasiosos. Nesse ponto, o título em português ainda revela mais do que deveria, enquanto o título original (“Insidious”, insidioso, algo que ataca imperceptivelmente) é mais feliz. Mas está bem acima da média atual.

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