Assim como no episódio
anterior, “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” se pauta pelas ações de um
vilão: depois do Coringa, é existência de Bane que justifica a presença do
herói em Gotham City. Não fosse pela presença do terrorista, dificilmente Bruce
Wayne sairia de seu limbo para, novamente, vestir o traje que praticamente o
amaldiçoou ao mexer no vespeiro do submundo da metrópole, que enfrenta os problemas
triviais de uma grande cidade com a presença constante de malucos que querem
destruí-la. Lugarzinho esquisito essa Gotham...
Por isso, a construção de Bane
é essencial para o sucesso do longa-metragem E, nesse ponto, o terceiro “Batman”
está muito bem resolvido. Sai o anarquismo do Coringa, entra o terror de Bane,
que transita entre o anseio descerebrado pela destruição e a erudição, presente
principalmente em seus longos discursos potencializados pelo ótimo tom de voz
estabelecido por Tom Hardy, praticamente a única ferramenta de atuação de um
personagem cujo rosto é coberto por uma enorme máscara.
Tudo que foi dito e escrito
elogiosamente ao novo “Batman” faz sentido. “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”
realmente fecha com primor a trilogia, exigindo até uma revisita aos dois
longas anteriores para deixar tudo vívido na memória. O filme tem ainda a
vantagem de se aproximar mais da estética dos quadrinhos que os precursores,
com a presença de personagens icônicos e situações certamente identificáveis
para os fãs de HQs. Da mesma forma mantém a verossimilhança típica da série: o
diretor Christopher Nolan quer lembrar constantemente que, sim, naquele mundo é
possível a existência de Batman, Bane e outros tipos.
MAS há algumas poucas, e
relativamente graves, falhas. Por mais que coincidências e planos
excessivamente mirabolantes fizessem parte da trama dos capítulos 1 e 2, estes
eram organicamente inseridos na história, não precisam de grande suspensão da
crença do espectador para se tornarem factíveis (como exemplo, cito a fuga da
prisão do Coringa em “O Cavaleiro das Trevas”, que tem desde um celular
inserido na barriga de um capanga até o destempero providencial de um dos
policiais). Aqui a barra é por vezes forçada demais, o que diminui a força de “O
Cavaleiro das Trevas Ressurge”.
Para quem deseja acompanhar o
raciocínio, aviso que os pontos abaixo estão recheados de SPOILERS. Então, leia
por conta e risco.
- Não há nenhuma justificativa
para Bane, logo depois de triturar a coluna de Bruce Wayne, contar para ele
todo o seu plano. Aliás, tem sim: fazer com que o herói sabia como agir ao
voltar para Gotham e acabar com a festa do vilão.
- A volta para Gotham é outro
problema: primeiro, como Wayne viajou quilômetros de distância no meio do
deserto? E como entrou em Gotham se a cidade estava toda sitiada, cercada de
capangas de Bane? Sem falar que deu tempo para trocar de roupa, fazer a barba e
encontrar Selina Kyle num momento bastante propício. (Aliás, Batman deve ter um
“sensor aranha” porque sabe exatamente onde o crime está acontecendo e a que
horas deve chegar).
- Antes do reencontro com o
Comissário Gordon, deu para montar todo aquele show pirotécnico com fogos
formando um morcego gigante? E o que dizer que reação de Bane ao ver a obra: “impossível”?
Não seria melhor ter matado Wayne de vez quando teve oportunidade?
- A personagem de Marion
Cotillard é bem mal resolvida, mas a revelação de que é Talia al Ghul cria um
bom gancho com o primeiro filme da saga. Só não dá pra engolir a morte
excessivamente caricata, já devidamente satirizada no tumblr http://peopledyinglikemarioncotillard.tumblr.com/
Dito isso, o desfecho é
bastante satisfatório. Fecha muito bem a trilogia e ainda abre espaço para uma
nova saga, que certamente não será desperdiçada depois do imenso sucesso de “O
Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Só poderiam ter caprichado um pouquinho mais no
desenvolvimento da trama...
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