quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Crítica: "Super 8" e os vícios de Spielberg e Abrams

“Super 8” é a reunião dos vícios de Steven Spielberg com as obsessões de J.J. Abrams, para o bem e para o mal. Uma ode ao cinema de aventuras fantásticas como “Os Goonies” e “Conta Comigo”, o longa-metragem parece feito sob medida para os nostálgicos amantes da década de 1980, mas vez ou outra se rende às características de superproduções contemporâneas com seu abuso de efeitos especiais e a ânsia de querer ser épico.
De Spielberg, “Super 8” herda o espírito infantil e a trama marcada por uma paternidade conturbada – o protagonista é Joe, um menino que perdeu a mãe precocemente e tem uma relação difícil com o pai policial. Ao lado de um grupo de amigos, o garoto decide gravar um filme de terror, e durante uma tomada noturna eles presenciam um estranho acidente de trem. A situação fica ainda mais insólita quando o exército invade a pequena cidade e isola o local onde os jovens cineastas fizeram as filmagens.
De Abrams, “Super 8” herda o gosto pelo mistério. O diretor, conhecido principalmente por seu trabalho na série “Lost”, fornece pistas à conta-gotas e deixa o público tão perdido quando seus personagens. A descoberta deles é também a nossa, o que gera uma empatia imediata na plateia, ávida por descobrir o mistério em torno do acidente de trem. Mas de Abrams aparecem ainda uns vícios estéticos, como os bregas contraluzes e a câmera levemente inclinada.
O resultado dessa mistura do cinema de outrora com o moderno cria um híbrido em alguns momentos estranho. Autorreferente e feito por quem (e para quem) ama o cinema, “Super 8” peca pelo excesso de informações no último ato, um didatismo desnecessário para uma produção que até então prezou pelo cuidado em seu desenvolvimento. É ainda flagrante o dedo de Spielberg em aliviar o destino trágico de alguns personagens, outro vício que acompanha o diretor e produtor.
O veterano e Abrams, seu novo pupilo, podem até ter se divertido na concepção dessa sua homenagem ao cinema, mas não dá para negar que “Super 8” termina não tão bem como começa.

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