quinta-feira, 14 de julho de 2011

"As Relíquias da Morte" e o fim de uma era

De certa forma, as adaptações cinematográficas ajudaram a manter vivo todo o fanatismo sobre a saga de Harry Potter mesmo depois de 2007, quando “As Relíquias da Morte” chegou às livrarias. Hoje, não tem mais jeito: a segunda parte do último episódio coloca de vez um ponto final num dos mais importantes produtos da cultura pop dos últimos 20 anos. E, sem correr o risco de ser exagerado, é também o encerramento da mais bem-sucedida ousadia do cinema hollywoodiano contemporâneo.

Não há aqui qualquer tentativa de se julgar os méritos artísticos das produções – como toda a série dilatada, há filmes bons e filmes ruins de “Harry Potter”. O trunfo da franquia deve ser observado com um olhar de dez anos atrás, quando se discutia a durabilidade de uma história cujo final ainda nem existia e, sabiamente, iria precisar de pelo menos outras seis produções. Há de se lembrar de “Eragon”, “Desventuras em Série” e “A Bússola de Ouro”, universos fantásticos igualmente longos em seu formato literário e que sucumbiram como vasta franquia cinematográfica já no primeiro episódio.

Só por isso, toda a falação e a expectativa em cima do último “Harry Potter” é justificada. A absurda gama de personagens e situações mágicas criadas por J.K. Rowling foi transposta para o cinema com o máximo de fidelidade possível, a ponto de as produções serem aceitas pelos fãs como um complemento visual daquilo já escrito.

Financeiramente, não há dúvidas do sucesso da versão cinema de “Harry Potter”. Os sete filmes anteriores arrecadaram desde 2001 mais de US$ 6,3 bilhões mundialmente – todos estão entre as 20 maiores bilheterias da história. Com o 3D, a expectativa é que esse “As Relíquias da Morte – Parte II” ultrapasse os US$ 200 milhões só no primeiro fim de semana de exibição, outro recorde histórico. Fora os lucros com DVDs e produtos licenciados.

Tematicamente, “Harry Potter” também tem seus méritos. A série começou com o tom excessivamente infantil de Chris Columbus em “A Pedra Filosofal” e “A Câmara Secreta”, passou pelo amadurecimento do mexicano Alfonso Cuarón em “O Prisioneiro de Azkaban” e Mike Newell em “O Cálice de Fogo” até o flerte gótico de David Yates, que desde “A Ordem de Fênix” tem imprimido características ainda mais soturnas a cada novo filme. Parece bobagem, mas é um grande feito para um produto altamente comercial. “Harry Potter”, como cinema, cresceu a cada novo episódio, raramente deu sinais de cansaço e chega ao seu derradeiro momento com fôlego. Acredite: “As Relíquias da Morte – Parte II” pode ser o encerramento da saga, mas o início de um legado cinematográfico que ainda será tomado como exemplo por muitos anos.

Desbunde visual

“Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte II” tem como grande vantagem o fato de, enfim, encerrar o tom episódico que marcou todos os filmes anteriores da série. É aqui que as situação são findadas e a trama caminha para o encontro do jovem bruxo com Lord Voldemort, o grande clímax inexistente principalmente nos dois capítulos anteriores, encerrados de forma abrupta. O ritmo lento e excessivamente verborrágico da “Parte I”, essencial para o estabelecimento dessa trama final, aqui dá lugar à correria. Com o 3D, então, o desbunde visual é ainda mais evidente.

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