quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Biutiful", a nova desgraceira de Iñarritu

Alejandro González Iñárritu, quem diria, se tornou grife. Representante máximo do cinema desgraceira contemporâneo, o diretor mexicano chamou a atenção com o excelente “Amores Brutos” e passou a ser reverenciado com o exercício narrativo de “21 Gramas”, mas errou feio com “Babel”, no qual a tragédia de seus personagens se sobrepunha ao desenvolvimento corretos dos mesmos. “Biutiful”, seu último trabalho, pode ser colocado na zona intermediária desta lista.

Para quem curte o sadismo poético de Iñarritu, o longa-metragem é um prato cheio. Uxbal, papel que deu a Javier Bardem uma indicação ao Oscar, é massacrado impiedosamente pelo diretor: pai solteiro, abandonado pela esposa bipolar e com dois filhos para criar, o pobre médium ainda sofre de câncer terminal e descobre ter pouco tempo de vida. Sem alternativas, Uxbal decide começar a fazer o bem para deixar uma vida mais digna aos filhos.
O caminho da redenção do personagem, como é peculiar em Iñarritu, é de pedras. Pela primeira vez sem a parceria do roteirista Guillermo Arriaga, o cineasta tenta imprimir alguma profundidade na via crucis de Uxbal colocando-o como um médium – ou seja, sua própria fé (e seu ganha-pão) é questionada quando ele mesmo percebe estar indo para um além que, talvez, não exista. Uxbal opta por parar de se preocupar consigo mesmo, e essa transformação do protagonista motiva “Biutiful”.

As chances de cair no ridículo são grandes, e vez ou outra Iñarritu não escapa do sentimentalismo bobo e até estereotipado ao mostrar todos os algozes de Uxbal como “marroquinos” ou “chineses”. “Biutiful” ultrapassa o limite da exploração ao mostrar o mundo como algo essencialmente triste e sem esperança, tudo para manter o público num estado de angústia forçada. A história até emociona, mas muito mais por nossa revolta com aquele universo angustiante do que por algo provocado pelo roteiro propriamente dito.

Não fosse a atuação precisa de Javier Bardem, “Biutiful” cairia facilmente no dramalhão novelesco. O ator é o pedaço humano desta fábula cruel.

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