segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Lançamento em DVD: "Melancolia"

De certa forma, “Melancolia” funciona como uma sequência indireta do filme anterior de Lars Von Trier, “Anticristo”. Não apenas pela presença de Charlotte Gainsbourg em ambos, mas principalmente por causa do tom episódico escolhido pelo diretor, tanto na divisão dos capítulos (cujos títulos prenunciam a desgraça por vir) quanto o prólogo, apresentado em câmera lenta com uma ária como trilha incidental, num caráter quase poético. Em Trier, o sofrimento é poesia e merece ser reverenciado.
Na primeira parte de “Melancolia”, acompanhamos o casamento de Justine (Kirsten Dunst), organizado pela irmã Claire (Gainsbourg) num pomposo castelo pertencente à família. À primeira vista, os duros conflitos apresentados nessa fase do filme soam como um dramalhão exagerado – não há nenhum respiro para a noiva, seja na conturbada relação com os pais, na falta de personalidade do noivo e nas excessivas cobranças dos cunhados. A família de Justine reúne todos os clichês possíveis de uma família desestruturada, e isso reflete na depressão eminente da personagem.
Mas o exagero oferecido por Trier não é ao acaso, como mostra a segunda parte de “Melancolia”. O diretor reúne toda a sua falta de fé na humanidade no evento apenas para apresentar o fim do mundo como uma benção, e conforme o gigante planeta Melancolia vem em direção a Terra a protagonista abandona seus dramas e abraça a morte como uma salvação. Até por isso, Justine leva o mesmo nome da protagonista de vários livros do Marquês de Sade, uma virtuosa que paga por sua bondade e só se livra do mal quando é rasgada por um raio.
Assim como em “Anticristo”, Trier faz de “Melancolia” uma ode ao niilismo, mas sem ver o niilismo como um fim. Justine aprende a lógica apresentada pelo diretor de que é preciso reiniciar a humanidade para livrá-la de seus vícios. E isso só será possível depois de muito sofrimento, seja na morte acidental do filho pequeno, seja na constatação de que as relações familiares estão destruídas. Se desapegar dessas crenças e abraçar o niilismo é, assim, parte do processo de redenção.

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